Governo pretende reduzir Hospital de Ovar à sua mínima expressão

No quadro do aniquilamento do Sistema Nacional de Saúde (SNS), levado a cabo por este governo (na linha dos anteriores), e procurando assim desbravar caminho aos grupos privados da saúde, o governo disponibilizou recentemente no site do Ministério da Saúde um “relatório” que propõe uma reorganização completa dos recursos humanos do SNS, numa lógica ainda mais acentuada de concentração de serviços que esvazia por completo um conjunto importante de Hospitais de proximidade, com particular destaque para o Hospital de Ovar. Este ,“relatório” não pode ser dissociado do Pacto de Agressão, imposto pela troika e aceite de forma completamente subserviente pelo actual governo, e que se traduziu já num corte de 20% no financiamento do SNS entre 2010 e 2012, e com a transposição deste encargo para as populações, designadamente através do aumento brutal das taxas moderadoras, ou do fim da comparticipação do transporte de doentes em ambulâncias.

 

Há muito que o PCP insiste na necessidade de criar condições para a formação de mais médicos que respondam às necessidades crescentes do país. Apesar das inúmeras propostas do PCP, os sucessivos governos PS/PSD/CDS mantiveram, ao longo de décadas, um enorme estrangulamento na entrada nos cursos de medicina através de um regime de numerus clausus completamente absurdo e que coloca hoje o SNS à beira da ruptura. Desta forma, é hoje publicamente reconhecido que Portugal não tem novos médicos para fazer face às saídas por aposentação e muito menos para poder aproximar o pais dos rácios de médicos por habitante considerados necessários e adequados à necessidades da população, (a título de exemplo, Portugal apresentava, em 2009, 62 médicos especialistas por cada 10000 habitantes, contra 77 em Espanha, 66 no Reino Unido e 137 em França).

 

A história do Hospital Dr. Francisco Zagalo tem sido marcada por sucessivos encerramentos de valências, começando pela maternidade, seguindo-se a pediatria e finalmente o serviço de urgência. O relatório citado propõe a retirada de 15 médicos, ficando assim o Hospital privado de anestesistas (perde os 5), de cirurgiões (perde os 2), de cardiologistas (perde igualmente os 2), de especialistas em medicina interna (perde 3), de ortopedistas (perde 2), de urologista (perde o único) e de radiologista (perde também o único existente). Refira-se, para acentuar ainda mais o carácter escandaloso de tal medida, que a ortopedia foi o “prato de lentilhas” que a autarquia aceitou receber em troca do encerramento da maternidade em 2000 e que a radiologia foi equipada em 2006 com o mais moderno equipamento, num investimento de 1,2 milhões de euros.

 

Perante este “relatório” - um verdadeiro programa de degradação e destruição destes hospitais, com consequência gravíssimos para a população de Ovar que já sofreu na pele os sucessivos encerramentos do passado, a Comissão Concelhia de Ovar do PCP não pode deixar de manifestar o seu mais vivo repúdio por esta política de aniquilamento do Serviço Nacional de Saúde. Neste sentido, e procurando confrontar as autoridades sobre este assunto, o Grupo Parlamentar do PCP na Assembleia da República entregou recentemente uma Pergunta Parlamentar (clique para aceder). Ao mesmo tempo, o eleito do PCP na Assembleia Municipal de Ovar, questionou igualmente a Câmara sobre o assunto, no sentido de saber se este relatório já era do conhecimento do Conselho Geral do Hospital.

Pode consultar o documento aqui.