Intervenção de Miguel Viegas na Sessão Solene da Assembleia Municipal pelo 38 Aniversário da Revolução de AbrilMiguel Viegas, eleito do PCP na Assembleia Municipal

 

Caros presentes

 

Celebrar mais um aniversário do 25 de Abril – o 38.º – não representa para nós um acto de saudosismo. Muito pelo contrário: os valores e conquistas da Revolução dos Cravos são perenes e estarão presentes em qualquer avanço progressista que venha a ter lugar em Portugal. Esta é uma garantia do PCP, que confia na luta dos trabalhadores e do povo para fazer com que o País retome os caminhos que Abril iniciou.

Não deixando de registar o sentimento crescente de indignação de milhões de portugueses, e também de muitos dos militares de Abril, perante um rumo de mais de trinta e cinco anos de política de direita, o PCP pronuncia-se, contudo pela valorização das comemorações oficiais do 25 de Abril, das quais emerge com particular significado a presente sessão solene, mas igualmente e como não poderia deixar de ser a que se realiza na Assembleia da República e cuja eliminação – que a direita pretende e já várias vezes tentou – contribuiria, de facto, para a sua menorização.

 

 

A Revolução de Abril foi o momento mais luminoso da história de Portugal. Tempo de alegria colectiva, de povo nas ruas a despedaçar algemas e mordaças, a conquistar a liberdade, exercendo-a, e conferindo-lhe o seu verdadeiro e amplo significado. A revolução de Abril foi liberdade; foi direito ao trabalho com direitos; foi direito à Saúde, direito ao Ensino, direito à Segurança Social; foi a experiência histórica da terra entregue a quem a trabalhava. Foi igualmente a colocação dos sectores estratégicos fundamentais da economia ao serviço do povo e do País, dando assim o suporte material necessários as todas as transformações sociais; foi a construção do Poder Local Democrático; foi o fim da guerra colonial, libertando outros povos do jugo colonial e simultaneamente libertando Portugal e pondo fim do isolamento internacional do nosso País.

 

Mas hoje e infelizmente, em 2012, comemoramos este aniversário num tempo marcado pela intensificação da furiosa ofensiva contra Abril e as suas conquistas. Uma ofensiva que – iniciada há trinta e seis anos assume agora contornos de um assalto final a tudo o que a Revolução de Abril nos trouxe de positivo, avançado, moderno e progressista.

Entretanto, ao trio PS, PSD, CDS que ao longo de mais de três décadas tem vindo a devastar o Portugal de Abril, juntou-se, de há um ano a esta parte, a troika FMI, UE, BCE – e todo eles, de mãos dadas, assinaram o tenebroso pacto de agressão. Um pacto que, tal como o PCP alertou na devida altura e a realidade confirmou, veio agravar ainda mais a situação económica e social, provocando um maior endividamento do País; trazendo mais desigualdades e injustiças; trazendo mais desemprego e mais exploração; abrindo alas aos aumentos desenfreados de todos os bens essenciais; roubando nos salários, pensões e reformas; aumentando a pobreza, a miséria e a fome; roubando pedaços significativos da independência e da soberania nacionais; roubando direitos, liberdades e garantias aos trabalhadores e aos cidadãos; roubando democracia à já fragilizada democracia existente; roubando Abril aos trabalhadores, ao povo e ao País.

Um pacto que, naturalmente, e cumprindo o seu objectivo maior, trouxe mais e mais lucros e vantagens e benesses aos chefes dos grandes grupos económicos e financeiros, que é basicamente para isso que as troikas em quem as assina existem. Por tudo isso, comemoramos o 38.º aniversário de Abril em luta: luta pela rejeição do pacto de agressão e da sua política antipatriótica; luta por uma política patriótica e de esquerda, ao serviço dos interesses de Portugal e dos portugueses, inspirada nos valores da Revolução de Abril.

 

Muitos olham para a situação do País e não vêem mais do que dificuldades e obstáculos. Muitos perguntam-se a si mesmo de vale de facto a pena tentar fazer alguma coisa. Daqui apelamos a todos para olhem para a história recente do País: durante 48 anos de ditadura fascista foram também muitos os que, sofrendo o que sofreram – o desemprego, a prisão, a tortura e também a morte – interrogaram-se se valia a pena lutar. Muitos desistiram, é certo, mas muitos outros não desistiram e acreditaram que era possível conquistar a liberdade e a democracia e conseguir uma via progressista para o País. No dia 25 de Abril tiveram a confirmação de que valeu e vale sempre a pena lutar.

 

Também hoje há muita gente esmagada ao ver o seu futuro negado e a sua vida ameaçada. A todos eles nos dirigimos dizendo : não desistam, não se conformem nem se resignem, indignem-se, protestem e lutem connosco isto não há-de ser sempre assim! A historia demonstra-nos que em tempo de crise, o povo português sob sempre tomar o destino entre as suas mãos e assegurar um rumo progressista e independente para Portugal. Acreditamos que assim será mais cedo que tarde.

 

Viva o 25 de Abril!

Viva Portugal.

Miguel Viegas

25 de Abril de 2012