Intervenção de Manuela Mourão, eleita do PCP, na Sessão Solene de Assembleia Municipal de Ovar

Manuela Mourão, eleita do PCP na Assembleia Municipal de OvarCaros concidadãos presentes:

Saudamos a democracia de Abril e o sinal de esperança que representa. Abril fez-se pela liberdade, pela construção de um Portugal democrático, por um futuro de progresso e justiça social, pela soberania e pela independência nacionais. Um futuro que a Constituição da República de Abril desenhou, na base de direitos que todo o ser humano, independentemente da sua origem, tem direito a ter e que ninguém tem o direito de negar-lhe.

Abril fez-se com o direito ao Serviço Nacional de Saúde, gratuito e universal. Abril fez-se com a Escola Pública, que acabou com o analfabetismo e deu esperança e perspectivas às novas gerações. Abril fez-se com a segurança social na doença, no desemprego e na velhice. Abril fez-se com o Poder Local democrático, que aproximou as populações dos órgãos de decisão, envolvendo-as nos destinos das suas comunidades. Abril fez-se com o respeito e a valorização do trabalho, que o Primeiro de Maio festejado em liberdade consagrou, num País forjado pelo respeito por quem trabalha, cria riqueza e com o seu esforço molda um futuro de progresso.

Saudamos todas as conquistas de Abril porque é imprescindível lembrar, que os tempos que vivemos nos aproximam cada vez das concepções e da realidade retrógrada do antigamente. A saúde é cada vez mais para a quem a pode pagar. São cada vez mais, sobretudo os desfavorecidos e os idosos, os que pensam duas vezes quando sentem um aperto no peito e não suportam as taxas moderadoras.

Os cortes na educação são uma promessa de uma pedagogia a martelo, de falta de condições de ensino adequadas à formação dos nossos jovens. E são cortes, eles próprios, o maior dos sinais de descrença no futuro.

O emprego é cada vez mais um privilégio numa sociedade empobrecida pelas políticas de direita, que nas últimas décadas procuraram convencer-nos que o futuro do País não estava no mar, na terra, ou na indústria, mas sim nos fundos comunitários para destruir tudo isto.

Esses sim, todos esses, que nos impuseram uma política de dependência do exterior, são responsáveis pela dívida imensa que fomos contraindo e que hoje nos sufoca.

Esses mesmos que estão destruindo o Poder Local democrático, começando pelas freguesias. Esse que impõem a martelo a reforma da Justiça e procuram comprometer a sua independência.

Esses que têm roubado a esperança aos jovens, o trabalho aos trabalhadores e a dignidade aos idosos. Esses que são responsáveis pela troika e pelo pacto de agressão e, por isso, são responsáveis pelo desemprego galopante, pelo ataque aos salários e às condições de trabalho, pelo roubo dos rendimentos e subsídios aos trabalhadores da Administração Pública, pelo roubo nas pensões e reformas dos idosos.

Por tudo isto, contra todos esses que nos trouxeram ao buraco onde estamos enfiados, importa lembrar o que foi Abril, e o sinal de esperança que deu na construção de um País que não só fosse livre, mas sobretudo que essa liberdade, expressa nas concepções democráticas da nossa Constituição, fosse forjada nos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos da república, e com eles se alicerçasse um futuro digno e soberano. E importa que se lembre e saúde o Primeiro de Maio e as suas lutas que os trabalhadores travam há décadas, em defesa dos seus legítimos direitos a uma vida digna.

E aos que estão a trocar Abril pela austeridade e impedem que povo português viva com a dignidade necessária e confiança no futuro, esta saudação significa um elemento de confiança num futuro melhor, que se constrói pondo fim à política de direita, à austeridade, e às “inevitabilidades”, encontrando de novo o rumo de Abril.

Viva o 25 de Abril!
Viva o Povo Português!
Viva Portugal Livre e Soberano!


Maria Manuela Mourão, 25 de Abril de 2013