Aerosoles em EsmorizApós um longo e penoso processo através do qual se foi desmantelando peça por peça aquele que chegou a ser o maior grupo de calçado português e principal exportador (Investvar, detentor da marca Aerosoles, evoluindo posteriormente com o nome de Move-on), assistimos hoje, com a compra dos despojos da Move-on pelo grupo Tata, a um epílogo trágico que acaba por confirmar os insistentes receios levantados pelo PCP em diversas ocasiões. Importa referir que o Grupo Investvar, que empregava directamente nas suas diversas fábricas em Portugal (DCB, Glovar, Ilpe e outras) quase dois mil trabalhadores, tinha igualmente largas dezenas de outras fábricas em concelhos circunvizinhos a trabalhar em regime de subcontratação. De todo este império, sobram hoje a fábrica de Esmoriz com pouco mais de uma centena de trabalhadores.

Confirma-se assim a habitual prática governamental de nacionalizar os prejuízos e privatizar os lucros. Em vez de aproveitar a entrada do Estado no capital social do Grupo Investvar, onde chegou a ter a maioria, procurando imprimir um novo rumo que garantisse o relançamento da produção e a defesa dos postos de trabalho, o Governo (na altura do PS) e o respectivo ministério da economia com o silêncio cúmplice de PSD e CDS, foram assistindo passivamente ao despedimento de centenas de trabalhadores, encerramento de fábricas (Glovar e Ilpe em Castelo de Paiva), inviabilizando sucessivos planos de viabilização da empresa.

Como balanço final, ficam milhares de postos de trabalho destruídos e mais de 50 milhões de euros de fundos públicos destinados a limpar os passivos da empresa vendida agora (já com este governo PSD/CDS) a preço de saldo ao Grupo Tata, detentor já da Indiana Calsea Footwear (que chegou pertencer à Investvar) que fica assim dono e senhor de todo o grupo num surpreendente volte-face. Esta situação é tanto mais grave como, ao que tudo indica, aparecem associados a esta empresa nomes com graves responsabilidades no afundamento do grupo Investvar.

Posto isto, a Comissão Concelhia de Ovar não pode deixar de denunciar esta situação, repudiando a forma com os vários governos geriram este caso, prejudicando claramente os interesses do país e dos trabalhadores e reafirmando a sua total disponibilidade para continuar a luta pela dignificação de quem trabalha e por um outro modelo de desenvolvimento de Portugal.

 

Ovar 17 de Julho de 2011

A Comissão Concelhia de Ovar do PCP